quinta-feira, 4 de março de 2010

O JOGO DO CONTENTE


O ócio gerado depois que quebrei o pé – e que me rendeu uma bota de gesso até o joelho, pesada e feia -, aliado ao afastamento do trabalho por longos 45 dias, me trouxeram de volta à atualização deste blog. Talvez esta vontade nasceu do meu medo de ser inconveniente. Como assim, inconveniente? É isto mesmo. Quero dizer que não posso estar encharcando as pessoas com as minhas frustrações, nem alugá-las tanto, por mais amigas que elas sejam. Então, nestes e noutros casos, escrever é a saída.

Fiquei aqui, matutando qual seria o meu primeiro tema neste renascimento de blog. E acabei lembrando de um que, além de oportuno, pode ajudar muita gente que necessita de razões extras para estar contente. Quem nunca ouviu falar nos livros Pollyanna (Menina e Moça), da romancista estadunidense Eleanor H. Porter, terá agora oportunidade de conhecer um pouco do conto. O título refere-se à protagonista Pollyanna Whittier, uma jovem órfã que vai viver em Beldingsville, com sua única tia viva e nostálgica, a tia Polly.

A filosofia de vida de Pollyanna é centrada no que ela chama "o jogo do contente", uma atitude pra lá de otimista que ela aprendeu com o pai, e que consiste em encontrar algo para se estar contente em qualquer situação por que passemos. E o jogo começou quando, no Natal, a menina, que estava esperando uma boneca de presente, acabou recebendo um par de muletas. Imediatamente, o pai de Pollyanna aplicou a estratégia, pedindo que a filha tentasse enxergar somente o lado bom dos acontecimentos.

Eu pergunto: será que este jogo pode ser aplicado em nossa vida diária, justamente no ápice mais doloroso das nossas limitações? Com um pouco de esforço, diria que sim. Eu, por exemplo, venho tentando jogar. Jornalista, vida dinâmica, pautas e mais pautas a cumprir, viagens a trabalho, até que de repente uma fratura no pé me deixa de cama. Ficar sem fazer nada é informação demais para uma jornalista.

E esta ociosidade gerou em mim – que nunca fui de reclamar de nada – uma postura de cobrança. Eu queria todos aos meus pés, do meu lado, me fazendo companhia, me fazendo rir e impedindo que eu chorasse. Mas a verdade, meu amigo, é que cada um é dono da sua vida. O meu pé quebrado é um problema meu, que vai passar muito em breve. A filosofia do jogo do contente, aliada à minha personalidade sincera e até um pouco simpática e compassiva, modéstia à parte, vai me fazer sentir melhor e vai me impedir de cobrar tanto dos outros.

O "jogo do contente" é para quem tem fé. E está me fazendo ver que neste quarto, onde estou agora, não existe apenas uma cama vazia, com travesseiros coloridos espalhados e alguns porta-retratos em minha frente. Daqui, de onde estou, posso olhar pela janela e ver crianças felizes mergulhando na piscina, a brisa balançando os hibiscos, enquanto homens dispostos constroem prédios gigantescos mais adiante. Isto me faz crer que a vida nos dá motivos de sobra para estar contentes!!!

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