terça-feira, 30 de março de 2010

TEMPORADA DAS FLORES - Leoni


Que saudade agora me aguardem,
Chegaram as tardes de sol a pino,
Pelas ruas, flores e amigos,
Me encontram vestindo meu melhor sorriso,
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta.
Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores.
Eu te trago um milhão de presentes,
Que eu achava que já tinha perdido,
Mas estavam na mesma gaveta,
Que o calor das pessoas e o amor pela vida...
Me espera estou chegando com fome,
Preparando o campo e a alma pra as flores,
E quando ouvir alguém falar no meu nome,
Eu te juro que pode acreditar nos rumores.
Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores.

segunda-feira, 29 de março de 2010

FRESTA - Fernando Pessoa



Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,

Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado

Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

MONÓLOGO DE ORFEU - Vinícius de Moraes


Algum dia recebi esta homenagem...

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!

MINHA SUPERSTAR!!!



Uma “mulher de brilho farto”. Dei uma roubadinha na frase utilizada pelo cantor Erasmo Carlos, na música Superstar, para definir a minha mãe: dona Fátima Costa. Mas continuo inquieta, porque ela é mais que isto. É uma mãe a apenas um passo da perfeição. E sua imperfeição está tão somente no amor exagerado que dedica aos seus filhos. Que perfeito, não??? Pois é. Hoje, senti vontade de lhe dizer “eu te amo” mil vezes. Você é mesmo a minha superstar, a dona do melhor abraço, do melhor cheiro no cangote, do melhor pirão de carne e do melhor astral que já pude ver. Ah, mãe, quando crescer quero ser igual a você!!!!

DIZEM QUE NOSSOS SORRISOS SE PARECEM...



Acho linda a forma carinhosa com que os sergipanos se dirigem aos seus pais. Eu diria que eles têm um pronome de tratamento especial. É um tal de “meu pai” pra lá, “minha mãe” pra cá. Existe a certeza da posse: é meu e ninguém toma!!! Estes dias, ando melosa e com uma saudade dobrada do “meu pai”, já que dona Fátima, “minha mãe”, está pertinho de mim, enquanto o senhor Alexandre Cavalcanti vive sua vida lá em Catende, minha terrinha pernambucana. Meu pai tem a justa fama de desligado e isto já me incomodou mais. À medida que vamos crescendo, entendemos que cada um tem sua maneira de amar. E eu sei que ele me ama. Para mim isto basta! Este post aconteceu para registrar essa saudade boa que sinto agora do meu painho. Que onde ele estiver, o amor de Deus o alcance. E o meu também!

domingo, 28 de março de 2010

MULHER DEMAIS - Martha Medeiros



Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: "olha, não dá mais". Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amavamuito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu:"mas agora eu to comendo um lanche com amigos". Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele.

Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei um dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito.

Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve. Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas,quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.

Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida.Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida. Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip,cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris.

Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher demais para ele. Ele quem mesmo???

domingo, 21 de março de 2010

MÁRCIO GREYCK: SINÔNIMO DE SAUDADE


A primeira vez que ouvi falar no cantor Márcio Greyck - um legítimo mineiro de Belo Horizonte – foi por intermédio do meu tio Alberto, atento apreciador das vozes mais bonitas do país. E sempre que ele trazia à tona aquele nome até então desconhecido para mim (e já tão evidente em todo o país), não esquecia de comentar que Márcio Greick era também um dos preferidos do seu irmão, meu saudoso tio Pedrinho, falecido em 1982, quando eu ainda era a única neta, única sobrinha, portanto a queridinha da família. Tio Pedrinho gostava muito de mim. E contava com a certeza de um amor retribuído. Eu tinha apenas três anos de idade quando o ouvia cantarolar “aparências nada mais sustentaram nossas vidas...”, uma das mais conhecidas de Greyck, e somente na adolescência fui associando o nome do cantor àquela música que ouvia repetidamente quando criança. O conjunto letra/melodia ficou gravado em minha alma. A música marcou também a memória afinada da família inteira. E foi assim que fui apresentada ao cantor predileto do meu tio Pedrinho. E cada canção daquele compositor bonitão de olhos verdes me fazia sentir um tipo bom de nostalgia. Aliás, desconfio que foi exatamente ali que também fui apresentada ao nobre sentimento chamado ‘saudade’. Ouvir Márcio Greyck hoje é o mesmo que ouvir tio Pedrinho cantarolando pela casa da vó Dapaz; é o mesmo que ouvir o meu tio Alberto me convidando a sentar na sala da sua casa, em frente à TV, uma espécie de lugar sagrado, onde juntos cultivamos a saudade e celebramos as lembranças mais fieis de um tempo que não corre o menor risco de ser esquecido.

APARÊNCIAS


Márcio Greyck
Composição: Cury - Fatha

Quantos anos já vividos, revividos, simplesmente por viver
Quantos erros cometidos tantas vezes, repetidos por nós dois
Quantas lágrimas sentidas e choradas
Quase sempre às escondidas, pra nenhum dos dois saber
Quantas dúvidas deixadas no momento, pra se resolver depois

Quantas vezes nós fingimos alegria, sem o coração sorrir
Quantas vezes nós deitamos lado a lado, tão somente pra dormir
Quantas frases foram ditas com palavras
Desgastadas pelo tempo, por não ter o que dizer
Quantas vezes nós dissemos eu te amo,
Pra tentar sobreviver

Aparências, nada mais,
Sustentaram nossas vidas
Que apesar de mal vividas têm ainda
Uma esperança de poder viver
Quem sabe resbuscando essas mentiras
E vendo onde a verdade se escondeu
Se encontre ainda alguma chance de juntar
Você, o amor e eu.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO!!!



Ele ria com os olhos e rezava com as mãos, tocando o seu violão...

Toquinho - Aracaju/2009

AMORES VIA INTERNET *Martha Medeiros


A propósito do brutal assassinato de uma moça pelo marido, no bairro Moinhos do Vento, em Porto Alegre, ouvi mais de um comentário do tipo: “Viu? É o que dá conhecer alguém pela internet”. Não é bem assim. A violência está em todo lugar e é protagonizada por pessoas de históricos mais diversos, sem falar que há inúmeros casais que se conheceram pela internet e mantêm uma relação sólida e sem surpresas.
Mas reconheço que há algo nas relações virtuais que fascina e assusta, e por isso elas são vistas com tamanha desconfiança: é a rapidez com que se cria o vínculo. Não há outro relacionamento que queime tantas etapas.
Nas relações ao vivo você primeiro estuda o terreno, depois convida para um chope, aí liga na semana seguinte, e assim vai. Trocando e-mails você faz tudo isto em poucas horas. Meia dúzia de mensagens é o que basta para a intimidade – bem relativa, diga-se – começar a se impor. O casal, cada um no seu micro, fica livre da timidez e cria um personagem muito mais sedutor e atraente, que não gagueja, não vacila, nas embola as frases: as contrário, reescreve-as quantas vezes for preciso até que elas saiam bem...naturais.
Nada de mal nisso, é apenas mais uma forma de encontro, e com inúmeras vantagens. Porém a ligeireza da internet está sendo reproduzida fora dela, e é aí que ficamos vulneráveis. As pessoas querem saltar da tela do computador num efeito rosa púrpura, como se passar do virtual para o real fosse uma mera questão de continuidade, e não é. É preciso retroceder a fita, reiniciar o programa, valer-se da cautela. Mas parece que todos querem ser livres da solidão o quanto antes, e acabam casando poucos meses depois de se conhecer, com a mesma urgência das primeiras mensagens trocadas priorizando a paixão e dispensando o bom senso, esse pobre-diabo desprestigiado.
Escrevi sobre isso outro dia, e volto a bater na tecla: conhecer alguém exige uma certa demanda de tempo. Uma vida inteira, às vezes, não basta. É sempre uma loteria. Há os sortudos que batem o olho de primeira e são tomados pela certeza divina: É ele! É ela! Mas quem não tem esse radar ultrapotente, que vá com calma. Pressa pra quê? Viagem juntos, almocem juntos, fiquem sem dinheiro juntos, conheçam os amigos um do outro, testemunhem as relações familiares de cada um, observem as reações de ciúmes, as paranóias, dividam pizzas, dividam o banheiro, passem por uns sufocos. Se depois de tudo isso a vida a dois continuar um paraíso, aí tomem a bênção aqui da tia: podem unir seus nicknames, já sabem onde estão se metendo.

DESESPERAR? JAMAIS!


Como se fosse fácil, né? Mas também não é tão difícil. Requer o suado exercício da paciência e fé. Mas como cargas d’água se faz isto? Aos poucos, devagarzinho, mas com obstinação. A princípio, é fundamental ter a consciência de que o controle das nossas vidas está nas Mãos de Deus. Somos os barquinhos e Ele, o mar. Nada foge do Seu governo. E com as nossas vidas não é diferente. É assim que devemos pensar: que temos um Pai presente e amoroso, que sempre cuida de nós. Por isso, não importa que tamanho o seu dilema tem. Você sempre terá um Deus superior, que traz paz e solução. Creia nisto e descanse!

SENTIMENTOS GRATUITOS


“Tudo que amo deixo livre. Se voltar, é porque conquistei. Se não voltar, é porque nunca tive”. Este pequeno texto me encantou desde a primeira vez que o li, no comecinho do filme Proposta Indecente, em mil novecentos e sei lá quanto. De lá para cá, nunca o esqueci, até porque ele se tornou cada vez mais comum nos Orkut’s, MSN’s e rabiscos das garotinhas – e garotonas – que também acreditam nessa coisa de ir e voltar gratuitamente.
O poeta Mário Quintana utilizou-se de outras palavras para dizer a mesma coisa: “O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do seu jardim para que elas venham visitá-lo”. Certamente, ele também acreditava no ‘ir e voltar gratuitamente’, na liberdade de trânsito, nos sentimentos 0800 e na certeza de que se foi bom haverá bis. Perdi a conta das vezes em que meu coração ficou de luto porque muita gente passou por minha vida de modo ‘cometa’. Elas foram, não voltaram e eu fiquei...fiquei sem entender nada.
E no meu caso, não entender o trânsito ‘desaforado’ das pessoas causava em mim uma angústia profunda. Mas é necessário parar para ao menos tentar compreender o outro, juntamente com seus motivos para arrumar a sacola e seguir seu rumo. E quando isto for tarefa difícil demais para você, um simples mortal, experimente perguntar-se se teria forças suficientes para segurar quem não quer ficar e mantê-lo preso ao seu lado. O esforço seria assutador e você correria o sério risco de chegar até o fim da linha desidratada de tanto suor derramado.
Isto sem falar que não existe prova de amor maior do que respeitar a liberdade do outro. “O que é do homem o bicho não come”, diz o ditado. “O que tiver de ser seu, será”, diz a vida. E é isso aí! Não se feche no seu mundinho com medo do movimento das pessoas pelas suas ruas. Você correrá o risco de não ver outras passando. Faça melhor que isso: encante-as naturalmente com o seu melhor. E se isto não for suficiente, conforme-se, respire fundo e dê o passo seguinte: cuide do seu jardim, decore a sua alma e acredite que no tempo certo as borboletas sobrevoarão o seu céu.

terça-feira, 9 de março de 2010



"Amanheceu, apesar de tudo..."
(Jorge Vercilo)

VONTADE BOA DE SER FELIZ!!!


Hoje acordei com uma vontade danada de ficar bem. De zerar as minhas tristezas para iniciar uma nova marcação de tentativas no cronômetro da vida. Abrir a janela do quarto, deixar a luz do sol entrar com gosto e clarear tudo, sacudir os lençóis da cama e permitir que tudo seja novo de novo. Não é que tudo esteja bem. É que faz-se necessário ter a sabedoria suficiente para fazer com que o que está dando certo seja maior, mais visível e mais importante do que as coisas deficitárias.
Simples assim? Nem tanto. O segredo é confiar em Deus e descansar nEle. Sei que esta consciência oscila dentro de mim, que me vejo fraca, às vezes, triste e sem condições de dar o melhor de mim. Mas também sei que sou muito mais útil quando estou bem. O sorriso se destrava e sai, consigo dar os meus recados e demonstrar que Deus mora dentro de mim.
Hoje acordei com uma vontade danada de ser feliz. E sei que estar de bem com a vida é uma ação que se conquista e se mantém somente – e não há outra forma – quando se permite que Deus seja o centro dela. Simples assim? É! E é regra: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle e tudo Ele fará”.

sábado, 6 de março de 2010

SONETO DA SEPARAÇÃO


Vinícius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente...

MEU FANTÁSTICO MUNDO


Já expliquei, no texto ‘O Jogo do Contente’, que este blog nasceu em um momento solitário da minha vida. As novas ideias também são decorrentes dos meus momentos de conversa comigo. Hoje pensei demais da conta. Uma salada de assuntos, de gente, de lembranças passearam por minha cabeça entediada. Um monte de perguntas também. Algumas foram mais insistentes e merecem a nossa atenção. Sugiro também que os cientistas mais perspicazes se liguem para nos ajudar nas respostas, se é que elas existem.

Por que as pessoas de hoje em dia andam com tanto medo de entregar seus corações? Se alguém nos faz tão bem – mas tão bem mesmo – por que optamos por tê-lo longe graças ao medo do apego que o contato freqüente pode causar? Se “fundamental é mesmo o amor” e se “é impossível ser feliz sozinho”, como tanto alertou Tom Jobim, por que danado homens e mulheres estão a cada dia mais parecidos com ímãs em posição contrária? E por que tanta entrega às relações de poucas horas?

É angustiante não ter resposta, mas é reconfortante ter a consciência de que eu não tenho que seguir moda para ser aceita. Assim como optei por não beber, não fumar, não consumir drogas e não xingar palavrões (a não ser quando a topada na quina da porta dói demais), também escolhi não fazer parte de uma maioria que foge. Foge, Alê? Foge, sim! Foge do amor, da cumplicidade, do compromisso anti-sufocante, da aceitação e da entrega.

Estou consciente de que posso pagar caro pela minha escolha. Aliás, já estou pagando. Mas é melhor assim. Tenho amigos que me acham meio E.T.. Acho que sou mesmo. Mas tenho certeza de que posso ser feliz neste meu fantástico mundo, construído neste mesmo planeta, só que bem distante das imitações e estratégias de fuga. E já estou até simpatizando com a ideia de encontrar um 'Bob' que vai ser a minha cara! Faremos parte de um mesmo mundo!

quinta-feira, 4 de março de 2010

À SOMBRA DA NOSSA PRESSA


“Tudo acaba mesmo sempre em despedida.” Este trecho da música ‘À Sombra de um Jatobá’ - composta, dedilhada e cantada por Toquinho - nos leva a pensar na brevidade da luz da vida. No fôlego curto que tentamos alongar de qualquer jeito. Corremos tanto para chegar pontualmente ao trabalho, fazer o serviço bem feito, educar os filhos com excelência, ganhar um pouco mais no final do mês, driblar os lances da rotina, ganhar tempo comendo qualquer porcaria... e acabamos esquecendo que tudo é tão derradeiro. E nessa pressa assustadora, saímos de casa sem lembrar dos que ficam, daquele beijo que deveria ter sido dado, daquele abraço, daquele carinho que não chegou a ser verdade. Tantas vezes esquecemos de nos olhar no espelho e vislumbrar a nossa paisagem, enxergar quem somos, aguar os nossos jardins. Vivemos à espreita dos julgamentos de amigos próximos, distantes, ou de quem sequer nos conhece o bastante para arriscar quaisquer palpites sobre nós. E a vida vai passando. E continuamos esquecendo disto. E mais um dia nasce. E vamos ficando para trás. Feliz daqueles que ainda conseguem chegar a tempo de encontrar-se com suas próprias molduras.

O JOGO DO CONTENTE


O ócio gerado depois que quebrei o pé – e que me rendeu uma bota de gesso até o joelho, pesada e feia -, aliado ao afastamento do trabalho por longos 45 dias, me trouxeram de volta à atualização deste blog. Talvez esta vontade nasceu do meu medo de ser inconveniente. Como assim, inconveniente? É isto mesmo. Quero dizer que não posso estar encharcando as pessoas com as minhas frustrações, nem alugá-las tanto, por mais amigas que elas sejam. Então, nestes e noutros casos, escrever é a saída.

Fiquei aqui, matutando qual seria o meu primeiro tema neste renascimento de blog. E acabei lembrando de um que, além de oportuno, pode ajudar muita gente que necessita de razões extras para estar contente. Quem nunca ouviu falar nos livros Pollyanna (Menina e Moça), da romancista estadunidense Eleanor H. Porter, terá agora oportunidade de conhecer um pouco do conto. O título refere-se à protagonista Pollyanna Whittier, uma jovem órfã que vai viver em Beldingsville, com sua única tia viva e nostálgica, a tia Polly.

A filosofia de vida de Pollyanna é centrada no que ela chama "o jogo do contente", uma atitude pra lá de otimista que ela aprendeu com o pai, e que consiste em encontrar algo para se estar contente em qualquer situação por que passemos. E o jogo começou quando, no Natal, a menina, que estava esperando uma boneca de presente, acabou recebendo um par de muletas. Imediatamente, o pai de Pollyanna aplicou a estratégia, pedindo que a filha tentasse enxergar somente o lado bom dos acontecimentos.

Eu pergunto: será que este jogo pode ser aplicado em nossa vida diária, justamente no ápice mais doloroso das nossas limitações? Com um pouco de esforço, diria que sim. Eu, por exemplo, venho tentando jogar. Jornalista, vida dinâmica, pautas e mais pautas a cumprir, viagens a trabalho, até que de repente uma fratura no pé me deixa de cama. Ficar sem fazer nada é informação demais para uma jornalista.

E esta ociosidade gerou em mim – que nunca fui de reclamar de nada – uma postura de cobrança. Eu queria todos aos meus pés, do meu lado, me fazendo companhia, me fazendo rir e impedindo que eu chorasse. Mas a verdade, meu amigo, é que cada um é dono da sua vida. O meu pé quebrado é um problema meu, que vai passar muito em breve. A filosofia do jogo do contente, aliada à minha personalidade sincera e até um pouco simpática e compassiva, modéstia à parte, vai me fazer sentir melhor e vai me impedir de cobrar tanto dos outros.

O "jogo do contente" é para quem tem fé. E está me fazendo ver que neste quarto, onde estou agora, não existe apenas uma cama vazia, com travesseiros coloridos espalhados e alguns porta-retratos em minha frente. Daqui, de onde estou, posso olhar pela janela e ver crianças felizes mergulhando na piscina, a brisa balançando os hibiscos, enquanto homens dispostos constroem prédios gigantescos mais adiante. Isto me faz crer que a vida nos dá motivos de sobra para estar contentes!!!