sexta-feira, 15 de outubro de 2010

À DISTÂNCIA, ENSINO ELIMINA CALOR HUMANO E COMPROMETE QUALIDADE

Atualmente, há 145 instituições credenciadas em todo o Brasil. Destas, 91 são públicas e 54, particulareS. Em Sergipe, Unit disponibiliza 24 polos para 7 mil alunos. UFS conta com mais de 5 mil estudantes matriculados em 15 unidades

*Alessandra Cavalcanti

"Conquiste a formação que você precisa sem sair de casa, com qualidade, economia e flexibilidade". Com esta mensagem como estivesse vendendo pasta de dente e sabonete, o portal do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e à Distância - AbraEAD - convida pessoas a ingressarem no mundo universitário, utilizando-se apenas de um computador conectado à internet e doses cavalares de dedicação. Está aí a senha do sucesso ou do fracasso?

De acordo com o AbraEAD, um em cada 73 brasileiros estuda à distância. E, somente em 2007, mais de 2,5 milhões de pessoas fizeram isto. Atualmente, há 145 instituições credenciadas em todo o Brasil. Destas, 91 são públicas e 54, particulares. O AbraEAD também verificou que 15% das matrículas do ensino superior do país estão nesta modalidade de ensino. O percentual representa 791 mil pessoas distribuídas em quase 650 cursos.

Mas a pergunta é: será que o ensino à distância realmente supre as necessidades dos alunos quando o presencial anda tão cambaleante? As opiniões são distintas. A estudante Maria Paula dos Santos (nome fictício), por exemplo, já pensou até em desistir do curso Letras Português/Espanhol que faz no polo da Universidade Tiradentes em Carira.

O fato de não contar com a presença do professor - e este profissional é insubstituível, sim, em salas de aula - para corrigir os erros de conversação e esclarecer outras dúvidas têm desestimulado a aluna. "Estou no terceiro período e até agora só tive aulas de espanhol no segundo. A conversação é zero, e não sei se vale a pena continuar", desabafa Maria Paula.

Segundo, Fábio Alves, vice-diretor do Centro de Educação Superior a Distância - Cesad - da UFS, a principal dificuldade para um aluno que ingressa em um curso à distância é o estabelecimento de uma rotina própria de estudos, além de ter que estudar sem a presença física do professor.

"Estamos habituados ao ensino presencial. E a EaD, por sua vez, possibilita que o aluno adeque sua rotina de estudo às suas particularidades de horário, e não o força a percorrer longas distâncias até um local determinado para ter uma aula", ressalta Fábio Alves.

OLHO NO OLHO
Marcos Danilo de Almeida não tem queixas a fazer sobre o curso de Biologia do polo da Universidade Aberta do Brasil - UAB - em Nossa Senhora da Glória. "Também faço o curso presencial de Direito, na Unit, e vejo que tudo depende do empenho do aluno para aprender. As dúvidas que tenho lá são as mesmas que surgem no ensino à distância", argumenta Marcos.

Apesar de acreditar nos efeitos positivos da EaD, Carlos Roberto de Souza, coordenador do polo da UAB em Glória, destaca que os cursos de Matemática, Química e Física são os que possuem maior índice de desistência dos alunos. Isto comprova a dificuldade provocada pela ausência de professores em tempo real para o esclarecimento de dúvidas e eventuais orientações.

José Augusto do Nascimento, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares do Ensino Superior de Sergipe - Sinepe/SE -, acredita que em qualquer formação a convivência é muito importante, porque somente a figura humana pode captar as necessidades do outro.

"Não se pode formar alguém simplesmente pelo sonho. Não dá para desenvolver um aluno sem trabalhá-lo olho no olho, sem que sua expressão facial, angústias e necessidades sejam vistas", destaca José Augusto.

Para Ronaldo Linhares, professor, doutor e coordenador adjunto do Programa Estadual de Educação Profissional a Distância da Unit, a EaD é apenas uma modalidade dentro do processo de educação formal dos sujeitos. "Não cabe pensar se é melhor ou pior. Ela tem uma função social importante numa sociedade em que a produção do conhecimento e o acesso a este é cada vez mais exigido como indicador da formação profissional e nas demandas do mercado", avalia. Que história é esta, professor? Claro que cabe, sim, perguntar e inquirir o que é melhor e o que é pior. Não basta suprir do pior apenas porque não se pode conceder o melhor.

FUNÇÃO SOCIAL
Segundo José Augusto do Nascimento, o ensino à distância é uma 'realidade mundial' e que, por isso, tende a crescer cada vez mais. Mesmo que ruim. No entanto, ele acredita que ainda há muita coisa para avançar no país. "O aluno brasileiro ainda não tem o hábito de estudar sozinho, sendo orientado de longe. Outra questão é: as instituições estão sendo criadas sem nenhuma identidade. O estudante não tem a quem se reportar, reclamar, pedir ajuda", observa o presidente do Sinepe/SE.

"O máximo que maioria das instituições do país tem é um site. Elas não têm endereço fixo nem jurídico. Ninguém sabe quem é o diretor nem o coordenador", critica José Augusto, que garante que em Sergipe essa realidade é um pouco diferente. "Aqui temos condição de saber a procedência das instituições que prestam este tipo de serviço", acrescenta. No entanto, apesar deste 'diferencial, percebe-se que o Estado não está bem organizado, já que não se sabe exatamente o número das faculdades sergipanas que ensina à distância. Nem o Conselho Estadual de Educação dispõe destes dados.

POLOS
De acordo com Jane Freire, gerente do Núcleo de Educação à Distancia da Unit - Nead -, em 2009 o censo só apontou as universidades Tiradentes e Federal como instituições cadastradas. "A Unit tem 24 polos distribuídos no interior sergipano. São 7 mil alunos estudando à distância nos cursos de graduação e pós graduação", diz Jane Freire.

Na UFS, há 5.385 alunos matriculados em 15 polos distribuídos nos municípios de Arauá, Areia Branca, Brejo Grande, Estância, Laranjeiras, Japaratuba, Poço Verde, Porto da Folha, São Domingos, Carira, Dores, Glória, Lagarto, Propriá e São Cristóvão.

"O objetivo é ampliar as oportunidades de acesso ao ensino superior para a população sergipana. É parte do projeto de expansão e interiorização da UFS, que conta com a abertura de novos Campi em Itabaiana, Laranjeiras e Lagarto, e com a oferta de cursos à distância", explica Fábio Alves, vice-diretor do Cesad.

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