quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pecado em rede



A internet nasceu para ser ‘arma de guerra’, mas tem sido flecha certeira lançada contra lares, relacionamentos e ministérios. O que fazer para que essa ferramenta tão importante seja bênção no mundo real?

Alessandra Cavalcanti

“A internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto. Essa foi a melhor definição que vi para uma ferramenta que tem ocupado totalmente a vida das pessoas”, destaca a servidora pública Marisa Reis, 35 anos. Mãe de dois adolescentes ‘viciados em internet’, como ela mesma define, e esposa de um professor de História que disputa a velocidade da conexão com os filhos, Marisa não esconde a tristeza ao afirmar que sua casa, nos últimos anos, tornou-se um lugar ‘silencioso e sem vida’, graças ao excesso de virtualidade que chegou com a internet.

“Passamos o dia todo fora de casa. Só conseguimos estar juntos à noite, mas ‘juntos’ apenas fisicamente porque, logo que eles chegam em casa, mal tomam banho e já correm para o computador. Nos fins de semana, acontece a mesma coisa. Eles até evitam sair para não largar o vício. Não conversamos, não brincamos, não temos mais tempo para nós. Não sei aonde vamos chegar”, desabafa Marisa.

Não faz muito tempo que a professora Dayse Prudente, 38, flagrou o esposo, em plena madrugada de sábado, com a webcam ligada, totalmente concentrado no desfile – ao vivo e em cores – de uma loira semi-nua, que sequer o deixou perceber a chegada da esposa no escritório onde todas as noites ele costuma ‘trabalhar’ até tarde.

FACEBOOK

O resultado dessa ‘aventurazinha virtual’ foi o incremento que faltava para que, após 14 anos de casamento, Dayse e o pai de sua filha findassem na sala de um advogado, como dois inimigos e papeis bem encaminhados para o divórcio.  Na casa do bombeiro Marcos Álvares Santana, 41, foi necessário bloquear ‘meia dúzia de sites’ para tentar vetar o acesso do filho de apenas 10 anos às páginas pornográficas.



Foi pelo Facebook – site e serviço de rede social – que a advogada Juliana Siqueira, 26, descobriu que o homem com quem havia casado há apenas um ano e meio mantinha um relacionamento com outra mulher antes mesmo de mudar de estado civil. “Ele trabalhava em outro Estado, e lá tinha uma namorada de muitos anos. Como ela e eu morávamos em lugares diferentes, parecia impossível que tudo fosse descoberto”, diz a advogada.

“Um dia, casualmente acessei a página de um amigo do meu então esposo, que morava do lado de lá, e vi uma sequência de fotos de um casal se beijando e passeando numa praia. Não acreditei quando vi que aquele era o mesmo que, diante do altar, da minha família e dos meus amigos, há tão pouco tempo tinha me prometido ser pra sempre fiel”, relembra Juliana.

RELACIONAMENTOS VIRTUAIS

Essas são apenas algumas histórias que servem para mostrar a ação negativa da internet na vida das famílias. Até mesmo algumas assumidamente cristãs não têm escapado dos chamados ‘pecados da net’. O pastor Emerson Porfírio, da Comunidade Presbiteriana de Aracaju (CPA), ressalta que, em casos mais extremos e não muito raros, os relacionamentos virtuais têm extrapolado os limites da internet, ganhando a realidade, culminando no fim de famílias, relacionamentos e ministérios.

“Quantos têm alimentado, através de sites pornográficos, as suas fantasias sexuais? Quantos, com a mente poluída com tanta pornografia, vivem cativos a cobiçar o seu próximo (Mateus 5.28)? A pornografia não é novidade, mas é fato que a internet a tornou mais acessível e menos controlada. O que dizer também dos que fazem uso da internet para falar da vida alheia, espalhar mentiras, denegrir o seu próximo, alimentar os seus desejos consumistas? Aquilo que poderia ser uma bênção tornou-se maldição para a vida de muitas pessoas”, lamenta o pastor.

POR OUTRO LADO...

Apesar dos pesares, Porfírio convida o leitor a imaginar que ótima ferramenta de trabalho tem sido a internet para aqueles que desejam divulgar o evangelho de Cristo. “Se antes a igreja contava com o trabalho dos chamados colpotores, distribuidores de Bíblias que desbravavam os vastos sertões brasileiros, deixando as suas famílias por meses sem as suas presenças, agora ela pode contar também com esse veloz meio de comunicação”, analisa.

Porfírio salienta como tem sido importante o uso da internet na comunicação entre os missionários no campo e respectivos mantenedores. Suas informações, relatórios e pedidos de oração chegam às igrejas em tempo real. “Enfim, a inteligência que Deus deu ao homem esta à disposição dele para o seu bem. No entanto, na contramão desse caminho, há aqueles que se deixam seduzir pelas facilidades da internet. Veem nela um mundo virtual no qual não há muita satisfação a dar a quem quer que seja. Podem ser o que desejam ser através de um perfil. Podem fazer virtualmente o que no mundo real seria reprovado. Dessa forma, escondidos dos olhos da sociedade, mentem sobre si e passam a viver uma vida paralela à realidade”, acrescenta o pastor.

NATUREZA PECAMINOSA

Contudo, o mal não está na internet, mas no coração do homem (Romanos 3.10-18; Tito 1.15). Com ou sem internet, a natureza humana pecaminosa encontrará meios para se manifestar. Emerson Porfírio adverte que cabe a cada um fazer bom uso da liberdade que possui, colocando em prática a recomendação do apóstolo Paulo: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10.31).

“Ao navegarmos pela internet, devemos ter sempre a consciência de que não há lugar no qual possamos nos esconder da presença de Deus (Salmo 139), assim, uma pergunta deve estar sempre viva em nossas mentes: O que estou fazendo edifica ou destrói? Tomando esses cuidados, viveremos bem e daremos graças a Deus pelos benefícios dessa ferramenta”, completa o pastor Emerson Porfírio.

O QUE PENSAM OS POLÍTICOS?

Deputado federal Valadares Filho (PSB/SE)

Falta legislação mais rígida para os crimes de internet, e nós, parlamentares, temos obrigação de promovê-la, a fim de que tenhamos o poder para regrar os abusos. Precisamos de leis firmes e fortes para coibir os excessos dos que usam a internet para o mal da sociedade e da família.

Senador Magno Malta (PR/ES)

Há pecado em todo lugar. A Bíblia diz que o mundo jaz no maligno. Onde tem joio tem trigo. A internet trouxe para nós o lixo do mundo. Hoje, o seu filho não precisa mais passar em uma banca de revista para ver pornografia. Isso sem falar que as bocas de fumo também estão ali dentro do computador e não somente na esquina da sua casa. Na internet, seu filho aprende a fazer bomba caseira, mas também pode aprender a fazer o bem. Então, basta que os pais não sejam analfabetos cibernéticos. A internet vai ser sempre uma ‘moça jovem’, diferente de nós, que vamos envelhecer. Ela é fundamental.

Fique sabendo!

  •  Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente em 2005, cerca de 32,1 milhões de brasileiros acima de 10 anos de idade já haviam acessado a internet. Este número só tem crescido à medida que as empresas provedoras de internet têm popularizado os preços e os meios de acesso.
  • Fruto da Guerra Fria, a internet nasceu como uma ‘arma de guerra’. Ela seria um meio de comunicação militar que resistiria a ataques inimigos, caso os meios convencionais de telecomunicação viessem sofrer algum dano. Ainda entre as décadas de 70 e 80, a internet passou a ser utilizada por civis nas universidades norte-americanas e daí ganhou o mundo
  • Com a presença cada vez maior de internautas online (quase 75 milhões de brasileiros fazem uso regular da grande rede, segundo o instituto Ibope Nielsen), a web já é um dos espaços mais frequentados pelas pessoas.
  • Grandes redes sociais, como o Facebook e o Orkut, já têm mais pessoas como membros do que a população de muitos países. Além disso, a vida virtual ganha cada vez mais horas do cotidiano do homem moderno. O Brasil, por exemplo, é a nação onde o internauta passa mais tempo conectado – uma média de 19 horas e meia por mês –, segundo o Ibope Inteligense.








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